O Blockchain, uma das tecnologias mais faladas do momento, já demonstra ter potencial de impacto na vida das pessoas e das organizações.
Afinal de contas, o que é o Blockchain?
Se você já conhece o conceito de Blockchain, fique à vontade para seguir para a próxima parte do texto.
Seu caso de uso mais conhecido é o Bitcoin, moeda virtual que tem valorizado em velocidade impressionante dado o seu crescimento de uso. E o próprio Bitcoin tornou visível o Blockchain, fazendo com que mais pessoas discutam e se empolguem com suas possibilidades.
Imagine que você gostaria de me transferir uma quantia em dinheiro. Você poderia me transferí-la em espécie (dinheiro físico), mas isso teria alguns problemas: demandaria que estivéssemos no mesmo lugar e na mesma hora, além de ser arriscado por conta da possibilidade de assaltos. Além do mais, a maior parte do dinheiro no mundo não existe como papel, e sim como bits de dados. Então, a solução óbvia é recorrer a uma transação bancária.
Neste caso, o banco atua como intermediário: validando que existe saldo na sua conta e atestando que houve uma transferência – debitando o valor de sua conta e creditando o mesmo valor na minha conta. E por esse serviço de intermediação você está sujeito a uma taxa.
Se você fosse fazer essa transferência virtual de forma direta por e-mail, enviando um arquivo que atestasse o valor, eu receberia uma cópia, enquanto o original permaneceria com você. Não haveria portanto o débito da transação que caracterizaria a transferência.
O Blockchain resolve esse problema da transferência virtual sem intermediários. Ele funciona como um livro-caixa onde são geradas páginas que contem todas as informações de um determinado sistema. Cada página deste livro é gerada dentro de um intervalo de tempo e deve estar de acordo com as páginas anteriores. A validação da coerência desses dados e de cada transação com as páginas anteriores é feita por uma rede de nós (computadores) onde cada nó cede poder computacional para validar a transação. Como são vários nós validando a transação, não existe um intermediário.
Alívio para populações vulneráveis
Refugiados nem sempre têm a oportunidade de carregar consigo a papelada referente à documentação que os identifica. E isso representa um sério problema quando surge a necessidade de começar a vida em outro lugar.
Atualmente, a ONU usa o Blockchain da Ethereum para a identificação de refugiados e o envio de vouchers para eles possam retirar alimentos em acampamentos atendidos pelo Programa Alimentar Mundial (WFP – World Food Program). A iniciativa se chama Building Blocks e funciona da seguinte forma: a população atendida é identificada por biometria, e fica registrada de forma imutável na rede da Ethereum; cada pessoa recebe um cupom que pode ser trocado por alimentos posteriormente. Atualmente a iniciativa está em operação no acampamento de Azraq, na Jordânia, que recebe cerca de 10 mil refugiados.
O WFP atende mais de 80 milhões em 80 países do mundo e pretende expandir os usos de identificação baseada em blockchain para suas outras operações além de Azraq.
Outro caso de aplicação já existente de Blockchain é o Moni, cartão pré-pago usado na Finlândia. O uso dele é destinado a refugiados exatamente pela facilidade de cadastro para usufruir do cartão. O cadastro requer apenas um número de telefone e um endereço local – a partir daí é gerada uma identificação baseada em Blockchain. O requerimento simplificado para o uso do cartão representa uma alternativa para pessoas que, por conta da situação de refúgio, têm dificuldade de obter uma identificação normal ao se mudarem para outro país sem, sequer, a documentação do país de origem.
Através de um processo simplificado de identificação de pessoas, o Moni facilita para essas pessoas o acesso à economia. Graças à identificação baseada em blockchain, refugiados ganham muitas possibilidades: guardar dinheiro virtualmente, fazer uma quantidade significativa de transações que antes não poderiam (online por exemplo) e até mesmo a possibilidade de receber um salário. Tudo isso era mais complicado, por conta da dificuldade de obter uma identificação formal de um governo, imigrando na condição de refugiado.
O Moni hoje limita suas operações à Finlândia mas possui planos de expansão para países vizinhos.
O que pode vir depois?
Um setor com enormes potenciais para o uso do Blockchain no futuro é o setor de créditos de carbono. Com a facilidade para troca de ativos sem intermediários facilitada pelo sistema, acredita-se que a troca de créditos de carbono pode ganhar um importante fôlego no futuro.
Outro ponto relacionado à questões de impacto ambiental onde o Blockchain pode trazer melhorias é o setor de energia. Transações que envolvam geração de energia também podem ser feitas de forma peer-2-peer (sem intermediários) através de smart-contracts (contratos virtuais de execução automatizada) e carteiras virtuais, gerando incentivo para produção e distribuição de energia por parte de atores menos (pessoas com produção de energia solar por exemplo) – o que traria mais eficiência no que se refere à distribuição energética.
O projeto Building Blocks é um importante piloto não somente para a WFP, mas para toda a ONU, que possui a ambição de proporcionar identificação oficial a todas as pessoas do planeta. A identificação de refugiados na Jordânia é um passo importante e, paralelamente, existe a iniciativa ID2020 Alliance – tocada em parceria com a Microsoft e a Accenture – que visa acelerar esse processo.
Ainda não desvendamos todos os potenciais (nem as limitações) do Blockchain, mas, já existem importantes usos que geram impacto social facilitando a vida de pessoas em situação de vulnerabilidade. As possibilidades de uso para o futuro mostram que ainda há importantes avanços a serem conquistado.
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